A minha "casa"
O mar sempre foi para mim a minha casa. Sempre adorei contemplá-lo. Ele tranquiliza-me e ao mesmo tempo dá-me força.
Quando o médico me disse que não podia apanhar sol por causa do lúpus, juntando ao facto de ter vergonha do meu corpo, mais propriamente, das manchas nas minhas pernas, dizia para mim e para todos que não gostava de praia. Essa foi a forma que encontrei de me proteger do fracasso interior que sentia.
Durante algum tempo não me aproximei da praia e quando comecei a ir levava um lenço atado à cintura, como saia, para que ninguém visse as minhas pernas, um chapéu e punha protector solar 50.
A verdade é que não me sentia nada bem em nenhuma das situações. Ir e estar quase toda tapada e debaixo do chapéu de sol deixava-me triste e não ir a mesma coisa. Esta foi uma luta que combati durante alguns anos.
Na minha cabeça parecia que os outros estavam sempre a olhar para as minhas pernas e que estavam sempre a olhar para mim como se eu fosse diferente. Então quando me perguntavam o que eu tinha nas pernas, ficava sem chão e só me apetecia chorar. Mas o problema não estava nos outros, o problema estava em mim. Eu é que me via de forma diferente. Eu é que não me sentia bem na minha pele.
Ao longo do tempo fui gerindo todas estas questões. Não foi um processo fácil. Primeiro o sol, aos poucos ia me expondo a ver como me sentia. Hoje faço praia e apanho sol tranquilamente, com toda a moderação que se recomenda a todas as pessoas. Depois as minhas manchas. Hoje olho para elas com orgulho, elas fazem parte da minha história e não tenho problemas em andar com calções ou saias curtas.